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segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A Bela e a Fera

- EXISTEM MUITOS HOMENS – DISSE BELA
- QUE SÃO MAIS MONSTRUOSOS QUE VOCÊ, E EU PREFIRO VOCÊ, APESAR DE SUA APARÊNCIA...


A BELA E A FERA


Na história sobre Tom e Elaine, que foi comentado no post anterior, observamos que Elaine expressa uma necessidade de ser servil, de ajudar o homem com o qual se envolveu. Na verdade, a compulsão de ser prestativa a esse homem foi o ingrediente decisivo na atração que sentiu. Tom, de forma correspondente, indicou que esteve procurando por alguém que o pudesse ajudar, que conseguisse controlar o comportamento dele, fazer com que se sentisse seguro, ou “salvá-lo” – alguém que seria a “enfermeira”.

Essa questão de mulheres redimindo homens através da doação de um amor abnegado, perfeito e que tudo consente, não é de forma alguma um tema moderno. Contos, incorporando as lições mais importantes da cultura que os cria e os perpetua, há séculos oferecem versões desse drama. Em A Bela e a Fera, uma jovem bonita e inocente conhece um monstro repulsivo e assustador. Para salvar a família da cólera dele, ela concorda em viver com o monstro. No final, ao conhece-lo melhor, ela supera sua repugnância natural e até começa a amá-lo, apesar da figura animal. Logicamente, quando começa a amá-lo, acontece um milagre, e ele é libertado do aspecto monstruoso e devolvido à sua realidade, não apenas humana mas principesca. Como príncipe restituído, ele é um parceiro agradecido e ideal para ela. Assim, o seu amor e aceitação por ele são muito bem recompensados na medida em que ela assume seu lugar ao lado dele para compartilhar uma vida de prosperidade abençoada.

A Bela e a Fera, como todas as histórias que há séculos são contadas e recontadas, incorpora uma moral espiritual profunda. Verdades espirituais são muito difíceis de se compreender, e mais difíceis ainda de serem postas em prática, porque sempre se chocam com valores contemporâneos. Assim, o conto costuma ser interpretado de forma a reforçar a tendência cultural, com o que se perde facilmente todo seu significado principal.

Tal crença, tão poderosa, tão difundada, permeia completamente nossa psique individual e grupal. A suposição cultural tácita de que podemos mudar uma pessoa para melhor, através da força de nosso amor, e que, se somos mulheres, é nossa obrigação fazê-lo, reflete-se constantemente em nossa fala e comportamento diários. Quando alguém com quem nos importamos não age ou não se sente como desejamos, tentamos ansiosamente encontrar maneiras de mudar o comportamento ou o humor daquela pessoa, normalmente com a bênção de outros que nos aconselham e que encorajam nossos esforços (Você já tentou?...). As sugestões podem ser contraditórias e numerosas, mas poucos amigos e parentes resistem a faze-las. A atenção de todos está voltada a como ajudar. Até os meios de comunicação entram na história, não somente refletindo aquela crença mas também, com sua influência, reforçando-a e perpetuando-a, desde que a tarefa continue delegada às mulheres. Por exemplo, revistas femininas e certas publicações de interesse geral parecem sempre publicar artigos do tipo “como ajudar seu homem a tornar-se...”, enquanto artigos correspondentes, do tipo “como ajudar sua mulher a tornar-se...” realmente são inexistentes em revistas equivalentes para homens.

E nós, mulheres, compramos as revistas e tentamos seguir os conselhos, com esperança de ajudar o homem da nossa vida a transformar-se no que queremos e precisamos que ele seja.

Por que será que a idéia de transformarmos uma pessoa infeliz, doentia ou coisa pior em parceiro perfeito atrai tão intensamente a nós, mulheres? Por que esse conceito é tão tentador, tão persistente?

Para alguns, a resposta pareceria óbvia: incorporado à ética judaico-cristã está o conceito de ajudar aqueles menos afortunados que nós mesmos. Ensinam-nos que é nossa obrigação agir com compaixão e generosidade quando alguém está com problemas. Não julgar, mas ajudar; esse parece ser nosso dever moral.

Infelizmente, esses motivos virtuosos de forma alguma explicam completamente o comportamento de milhares de mulheres que escolhem como parceiros homens cruéis, indiferentes, abusivos, inacessíveis emocionalmente, viciados ou incapazes de ser amáveis e interessados. Mulheres que amam demais fazem essa escolha com base na compulsão de controlar aqueles que estão mais próximos dela. Essa necessidade de controlar as pessoas origina-se na infância, durante a qual muitas emoções opressivas são frequentemente  experimentadas: medo, raiva, tensão insuportável, culpa, vergonha, pena dos outros e de si mesma. Uma criança, crescendo em tal ambiente, seria destruída por essas emoções, a ponto de ser incapaz de conviver, a menos que ela desenvolvesse formas de proteger-se. Sempre, em suas armas, a negação, é uma motivação subconsciente igualmente poderosa, o controle. Todos nós, incoscientemente, empregamos mecanismos de defesa a questões bastante triviais e outras vezes com relação a assuntos e acontecimentos de grande importância. De outra forma, teríamos que enfrentar fatos sobre quem somos e sobre o que pensamos e sentimos, coisas que não se ajustam à imagem idealizada de nós mesmos às circunstâncias. O mecanismo da negação é útil principalmente para ignorarmos informações com as quais não queremos lidar. Por exemplo, não perceber (negar) como uma criança está crescendo pode ser uma forma de evitar os sentimentos de que aquela criança um dia sairá de casa. Ou não ver e não sentir (negar) os quilos a mais que tanto o espelho quanto as roupas apertadas refletem, podem permitir a indulgência contínua em relação às comidas prediletas.

A negação  pode ser definida como uma recusa a reconhecer a realidade em dois níveis: no nível do que está realmente acontecendo, e no nível do sentimento.

Homens que escolhem mulheres que amam demais

ELA É O APOIO QUE ME ENCOSTO,
ELA É O SOL DO MEU DIA,
E QUE NÃO IMPORTA O QUE DIGAM A SEU RESPEITO
MEU DEUS, ELA ME ACEITOU E ME TORNOU TUDO QUE SOU HOJE.


SHE’S MY ROCK

COMO AS COISAS funcionam para o homem envolvido? Quais são suas experiências com respeito à química que ocorre nos primeiros instantes ao conhecer uma mulher que ama demais? E o que acontece a seus sentimentos conforme o relacionamento prossegue, principalmente se o homem começa a modificar-se e tornar-se mais saudável ou mais doente?

Robin Norwood relata que alguns dos homens em que entrevistou, cuja uma delas será contada logo mais, conseguiram um grau incomum de autoconhecimento, como também um discernimento considerável nos padrões de relacionamentos com as mulheres que foram suas parceiras. Muitos desses homens que estão se recuperando de vícios tem a ajuda de anos de envolvimento terapêutico com os Alcoólicos Anônimos ou Narcóticos Anônimos, e consequentemente são capazes de identificar a atração que as mulheres co-alcóolotras sentiam por eles conforme se afundavam no vício, fizeram terapias mais tradicionais, que os ajudaram a entender melhor a si próprios, bem como a seus relacionamentos.

De várias entrevistas que Robin fez, embora os detalhes diferenciem-se de história para história, está sempre presente a atração por uma mulher forte que, de certa forma, promete compensar o que falta a cada homem e à vida dele.

Tom: 48 anos; sóbrio há doze; o pai morreu de alcoolismo, como também um irmão mais velho.

Lembro-me da noite em que conheci Elaine. Foi num baile no clube de campo. Ambos estávamos aproximadamente com vinte anos, e ambos namorávamos. O fato de eu beber já era um problema. Fora preso uma vez por dirigir bêbado, quando tinha vinte anos, e dois anos mais tarde sofrera um acidente de carro, que aconteceu porque eu bebera demais. Mas logicamente não pensei que o álcool estivesse me fazendo mal. Eu era simplesmente um jovem rapaz em crescimento que sabia como aproveitar a vida.

Elaine estava com um conhecido meu, que nos apresentou. Ela era muito atraente e fiquei feliz quando fizemos a famosa “troca de parceiros” para uma outra dança. Naturalmente, eu bebera naquela noite, de forma que me sentia pouco atrevido; uma vez que queria impressioná-la, enquanto dançávamos, tentei alguns passos bem extravagantes. Eu esforçava-me tanto para ser gracioso que fui literalmente para cima de um outro casal e dei um soco no estômago da mulher. Fiquei realmente embaraçado e não consegui dizer muita coisa a não ser murmurar que me desculpassem, mas Elaine em instante algum ficou sem jeito. Pegou a mulher pelo braço, desculpou-se com ela e com o parceiro dela, e acompanhou-os até seus lugares. Ela foi tão meiga que o marido da outra ficou provavelmente satisfeito por tudo ter acontecido. Em seguida, ela retornou, bastante preocupada comigo também. Se fosse uma outra mulher, ter-se-ia zangado e nunca mais me dirigido a palavra. Bem, resolvi que não a deixaria escapar, depois daquilo.

O pai dela e eu sempre nos demos muito bem, até sua morte. Logicamente, ele também era alcóolotra. E minha mãe adorava Elaine. Ela sempre dizia a Elaine que eu precisava de alguém como ela para cuidar de mim.

Por um bom tempo Elaine continuou acobertando-me, como fizera naquela primeira noite. Quando ela finalmente conseguiu ajuda para si e parou de tornar as coisas fáceis para eu continuar bebendo, eu disse que ela não me amava mais e fugi com minha secretária de 22 anos. Após aquilo, decaí rapidamente. Seis meses mais tarde, fui à minha primeira reunião do A.A., e tornei-me sóbrio desde então.

Elaine e eu reatamos após eu estar sóbrio já há um ano. Foi realmente difícil, mas ainda existia muito amor entre nós. Não somos as mesmas pessoas que se casaram há vinte anos, mas ambos gostamos mais de nós mesmos do que gostávamos na época, e tentamos ser honestos um com o outro todos os dias.

A atração de Tom por Elaine

O que aconteceu entre Tom e Elaine é típico do que acontece entre um alcóolotra e um co-alcóolotra aos se encontrarem pela primeira vez. Ele cria problemas e ela, ao invés de ficar ofendida, imagina como ajudá-lo, como acobertar as coisas e fazer com que ele e todas as outras pessoas fiquem confortáveis. Ela provoca um sentimento de segurança, que para ele significa atração poderosa, uma vez que sua vida está se tornando incontrolável.

Quando Elaine juntou-se ao Al-Anon (terapia em grupo para co-alcóolotras) e aprendeu a parar realmente de ajudar Tom a ficar doente, acobertando tudo para ele, Tom fez o que muitos viciados fazem quando a parceira começa a se recuperar. Ele vingou-se tão dramaticamente quanto pôde e, uma vez que existe para cada homem alcóolotra muitas mulheres co-alcóolotras procurando alguém para salvar, ele rapidamente encontrou uma substituta para Elaine, uma outra mulher que estava disposta a continuar com o tipo de resgate e de permissão que agora Elaine recusava proporcionar a ele. Além disso, ele ficou tão doente que suas escolhas limitaram-se a duas: começar a recuperar-se ou morrer. Só quando suas alternativas se tornaram tão lúgubres foi que ele decidiu mudar.

O relacionamento está atualmente íntegro, porque essas duas pessoas entraram nos programas Anônimos, A.A. no caso de Tom, e Al-Anon no caso de Elaine. Lá aprenderam, pela primeira vez na vida, a relacionar-se de forma saudável e não manipuladora.

domingo, 29 de agosto de 2010

A necessidade de ser necessária

ELA É UMA MULHER DE BOM CORAÇÃO
APAIXONADA POR UM HOMEM QUE SE DIVERTE;
ELA O AMA APESAR DE SEUS HÁBITOS PERNICIOSOS
QUE NÃO ENTENDE.

GOOD-HEARTED WOMAN

- Eu NÃO SEI como ela faz tudo isso. Ficaria louca se tivesse que lutar contra o que ela luta.
- Sabe, nunca ouvi ela reclamar!
- Por que ela suporta pacientemente a situação?
- Afinal, o que ela vê nele? Poderia conseguir algo bem melhor.

As pessoas tendem a dizer esse tipo de coisa sobre uma mulher que ama demais, ao observarem o que seria um esforço nobre de melhorar uma situação frustrante. Mas normalmente encontram-se, em suas experiências de infância, indícios que explicam o mistério de sua ligação fracassada. A maioria de nós cresce desempenhando os papéis que adotamos em nossa família de origem. Para muitas mulheres que amam demais, aqueles papéis frequentemente significavam que negavam sua próprias necessidades enquanto tentavam satisfazer as de outros membros da família. Talvez fomos forçadas pelas circunstâncias a crescer rápido demais, assumindo prematuramente responsabilidades de adultos, porque nossa mãe ou nosso pai estava doente física ou psicologicamente e não podia desempenhar as funções paternas apropriadas. Ou talvez um de nossos pais ficou ausente devido a morte ou divórcio, e tentamos preencher essa ausência, ajudando a cuidar de nossos irmãos e do outro pai.

Talvez nos tornamos a dona de casa enquanto nossa própria mãe trabalhava para sustentar a família. Ou, ainda, podemos ter vivido com ambos os pais, mas porque um deles estava zangado ou frustrado ou infeliz, e o outro não respondia em apoio, vimo-nos no papel de confidente, tendo de ouvir detalhes do relacionamento escabrosos demais para suportarmos emocionalmente. Ouvimos porque tínhamos medo das consequencias para o pai sofredor se não ouvíssemos, e medo de perder o amor se fracassássemos em desempenhar o papel que nos fora atribuído. Dessa forma, não nos protegemos, e nossos pais também não, porque eles precisavam nos ver como sendo mais fortes do que eles. Apesar de sermos imaturos demais para a responsabilidade, no final nós é que nos protegemos. E quando isso aconteceu, aprendemos bem cedo, mas muito bem, como cuidar de qualquer pessoa, menos de nós mesmas. Nossas necessidades de amor, atenção, cuidado e segurança permaneceram insatisfeitas, enquanto fingíamos ser mais poderosas e menos medrosas, mais crescidas e menos carentes do que realmente nos sentíamos. E, ao aprendermos a negar nosso próprio desejo de ser cuidadas, crescemos procurando mais oportunidades de fazer o que sabíamos tão bem: preocupar-mos com os desejos e exigências de outras pessoas ao invés de reconhecermos nosso próprios medos, nossa dor e nossas necessidades insatisfeitas. Fingimos por tanto tempo sermos crescidos, pedindo tão pouco e fazendo tanto, que agora parece tarde demais para ser a nossa vez. Então ajudamos e ajudamos, e esperamos que nosso medo se vá e que nossa recompensa seja o amor.

sábado, 28 de agosto de 2010

Bom relacionamento sexual em relações ruins

Qual a mulher que nunca fez o seguinte questionamento: “Como o sexo entre nós era tão bom, fazia-nos sentir tão bem e uníamos tanto, se realmente não existia nada entre nós?”. Essa pergunta merece ser estudada, pois as mulheres que amam demais frequentemente encaram o dilema de bom relacionamento sexual em relações infelizes e sem esperança. Fomos ensinadas que “bom” relacionamento sexual significa amor “de verdade”, e que, contrariamente, o sexo não poderia ser realmente satisfatório e realizador se o relacionamento não fosse, como um todo, correto para nós. Nada é mais verdadeiro para as mulheres que amam demais. Devido à dinâmica operando em cada nível de interação com os homens, incluindo o nível sexual, um relacionamento ruim contribui realmente para o sexo ser excitante, apaixonante e estimulante.

Podemos ser bastante pressionados a explicar à família e aos amigos como alguém que não é especialmente admirável ou simpático pode, no entanto, despertar em nós uma emoção antecipada e um desejo intenso nunca antes conseguido pelo que sentimos por uma pessoa mais agradável ou mais apresentável. É difícil dizer que somos encantadas pelo sonho de acordar todos os atributos positivos – amor, o carinho, a atenção, a integridade, e a nobreza que, estamos certas, estão dormentes em nosso amante, esperando para desenvolver-se no calor de nosso amor. As mulheres que amam demais frequentemente dizem a si mesmas que o homem com quem se envolveram nunca foi realmente amado antes, nem pelos pais, nem mesmo pelas antigas esposas ou namoradas. Nós achamos que ele foi prejudicado, e assumimos prontamente a tarefa de compensar tudo o que faltava em sua vida, mesmo antes de conhecê-lo. De certa forma, o cenário é uma versão de Branca de Neve, com papéis invertidos sexualmente, onde a personagem dormia sob um encanto, esperando pela liberdade que vem com seu primeiro beijo verdadeiramente de amor.

O sexo é uma das formas primárias de tentarmos amá-lo saudavelmente. Todo contato sexual carrega todo o nosso esforço de modificá-lo. Com cada beijo e cada toque empenhamo-nos em dizer a ele como é especial e valoroso, como é admirado e estimado. Temos certeza de que, uma vez que ele está convencido de nosso amor, será transformado em seu verdadeiro eu, ciente da incorporação de tudo que queremos e precisamos que ele seja.

O desenvolvimento do sintoma

Você talvez possa ter se identificado com algumas das características dos posts anteriores e questionar se você também é uma mulher que ama demais. Embora seus problemas com homens sejam similares a essas características, talvez você tenha dificuldade em associar essa situação aos “rótulos” que se aplicam a algumas dessas experiências. Todos temos reações emocionais adversas a palavras como alcoolismo, incesto, violência e vício, e às vezes não conseguimos olhar para nossas próprias vidas de forma realista porque tememos que esses rótulos se apliquem a nós ou a pessoas que amamos. Infelizmente, negar esses termos quando eles são cabíveis, frequentemente, impede-nos de conseguir a ajuda adequada. Por outro lado, esses rótulos tão temidos podem não se aplicar à sua vida. Sua infância pode ter envolvido problemas de natureza mais sutil. Talvez seu pai muito embora desse segurança financeira à família, detestasse as mulheres e não confiasse nelas. Essa incapacidade dele de amar talvez tenha impedido você de se amar. Ou a atitude de sua mãe com relação a você tenha sido de ciúme ou de competitividade em casa, ainda que elogiasse você em público, de forma que você precisava se sair bem para ter tal aprovação, temendo, no entanto, a hostilidade que seu sucesso provocaria nela.

É impossível abordar os inúmeros tipos de família doentia. Seriam necessários vários livros de naturezas diversas entre si. Entretanto é importante entender que o que todas as famílias doentias tem em comum é a incapacidade de discutir problemas enraizados. Há problemas que são discutidos exaustivamente, na maioria dos casos, e eles ocultam frequentemente os segredos subjacentes que tornam a família desajustada.

Família desajustada é aquela em que os membros tem funções inflexíveis e a comunicação é seriamente restrita a argumentos cabíveis a essas funções.

Quando ninguém pode discutir o que afeta individualmente cada membro da família, como também a família como um todo – na sua verdade, quando a discussão é proibida implicitamente (muda-se o assunto) ou explicitamente (“Não falamos sobre essas coisas!”) - , aprendemos a não acreditar em nossas próprias percepções e sentimentos. Quando a família nega a realidade, começamos a negá-la também, e isso prejudica seriamente o desenvolvimento dos instrumentos básicos para a vida e para o relacionamento com pessoas e situações. É o prejuízo que se vê em mulheres que amam demais. Tornamo-nos incapazes de discernir se algo ou alguém é bom para nós ou não. Situações e pessoas que outros evitariam naturalmente por serem perigosas, desconfortáveis ou perniciosas não são repelidas por nós, pois não as podemos avaliar realisticamente ou de forma autoprotetora.

Ninguém se transforma em mulher que ama demais por acaso. Crescer como mulher nessa socieadade e em tal família pode gerar alguns padrões previsíveis. As seguintes características são típicas de mulheres que amam demais.

  1. Você vem de um lar desajustado em que suas necessidades emocionais não foram satisfeitas.

  1. Como não recebeu um mínimo de atenção, você tenta suprir essa necessidade insatisfeita através de outra pessoa, tornando-se superatenciosa, principalmente com homens aparentemente carentes.


  1. Como não pôde transformar seus pais nas pessoas atenciosas, amáveis e afetuosas de que precisava, você reage fortemente ao tipo de homem familiar mas inacessível, o qual você tenta, mais uma vez, transformar através de seu amor.

  1. Com medo de ser abandonada, você faz qualquer coisa para impedir o fim do relacionamento.


  1. Quase nada é problema, toma muito tempo ou mesmo custa demais, se for para “ajudar” o homem com quem está envolvida.

  1. Habituada à falta de amor em relacionamentos pessoais, você está disposta a ter paciência, esperança, tentando agradar cada vez mais.


  1. Você está disposta a arcar com mais de 50% da sua responsabilidade, da culpa e das falhas em qualquer relacionamento.

  1. Sua auto-estima está criticamente baixa, e no fundo você não acredita que mereça ser feliz. Ao contrário, acredita que deve conquistar o direito de desfrutar da vida.


  1. Como experimentou pouca segurança na infância, você tem uma necessidade desesperada de controlar seus homens e seus relacionamentos. Você mascara seus esforços para controlar pessoas e situações, mostrando-se “prestativa”.

  1. Você está muito mais em contato com o sonho de como o relacionamento poderia ser que com a realidade da situação.


  1. Você é uma pessoa dependente de homens e de sofrimento espiritual.

  1. Você tende psicologicamente e, com freqüência, bioquímicamente a se tornar dependente de drogas, álcool e/ou certos tipos de alimento, principalmente doces.


  1. Ao ser atraída por pessoas com problemas que precisam de solução, ou ao se envolver em situações caóticas, incertas e dolorosas emocionalmente, você evita concentrar a responsabilidade em si própria.

  1. Você tende a ter momentos de depressão, e tenta preveni-los através da agitação criada por um relacionamento instável.


  1. Você não tem atração por homens gentis, estáveis, seguros e que estão interessados em você. Acha que esses homens “agradáveis” são sem graça.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A versão masculina do problema

As mulheres não são as únicas a amar demais. Alguns homens também se comportam assim, e seus atos e sentimentos provêm dos mesmos tipos de experiências e de dinâmicas da infância. Entretanto, a maioria dos homens que foram afetados na infância não desenvolvem um vício ligado a relacionamentos. Devido a uma interação de fatores culturais e biológicos, eles normalmente tentam se proteger, e evitam a dor exercendo atividades mais externas que internas, mais impessoais que pessoais. A tendência é eles se tornarem obcecados pelo trabalho, por esportes ou hobbies, enquanto nas mulheres, devido a forças culturais e biológicos peculiares, a tendência é se tornarem obcecadas por um relacionamento – talvez apenas com o tipo de homem difícil e distante. 

Quando é que amamos demais?

QUANDO AMAR significa sofrer, estamos amando demais. Quando grande parte de nossa conversa com amigas íntimas é sobre ele, os problemas, os pensamentos, os sentimentos dele – e aproximadamente todas as nossas frases se iniciam com “ele...” estamos amando demais.

Quando desculpamos sua melancolia, o mau humor, indiferença ou desprezo como problemas devidos a uma infância infeliz, e quando tentamos nos tornar sua terapeuta, estamos amando demais.

Quando lemos um livro de auto-ajuda e sublinhamos todas as passagens que pensamos que irão ajudá-lo, estamos amando demais.

Quando não gostamos de muitas de suas características, valores e comportamentos básicos, mas toleramos pacientemente, achando que, se ao menos formos atraentes e amáveis o bastante, ele irá se modificar por nós, estamos amando demais.

Quando o relacionamento coloca em risco nosso bem-estar emocional, e talvez até nossa saúde e segurança física, estamos definitivamente amando demais.

Apesar de toda a dor e insatisfação, amar demais é uma experiência tão comum para muitas mulheres, que quase acreditamos que é assim que os relacionamentos íntimos devem ser. A maioria de nós amou demais ao menos uma vez, e, para muitas, está sendo um tema repetido na vida. Algumas nos tornamos tão obcecadas por nosso parceiro e nosso relacionamento, que quase não somos capazes de agir.

No livro MULHERES QUE AMAM DEMAIS é analisado a fundo as razões por que tantas mulheres,  procurando alguém para amá-las, parecem encontrar inevitavelmente parceiros doentios e não afetuosos. É necessário ver o motivo, já que o relacionamento não satisfaz nossas necessidades, mas temos tanta dificuldade em acabar com ele. Veremos que amar se torna amar demais quando nosso parceiro é inadequado, desatencioso ou inacessível e, mesmo assim, não conseguimos abandona-lo – de fato, nós o queremos, precisamos dele ainda mais. Passaremos a compreender como o fato de querermos amar, de ansiarmos por amor ou de amar em si torna-se um vício.

Vício é uma palavra assustadora. Ela evoca imagens do dependente de heroína espetando agulhas nos braços e levando uma vida obviamente autodestrutiva. Não gostamos da palavra e não gostamos de aplicar o conceito à forma de nos relacionarmos com homens. Mas muitas de nós fomos viciadas, temos que admitir a seriedade de nossos problemas para que possamos empreender a recuperação.

Se você já ficou obcecada por um homem, você deve ter suspeitado que a essência daquela obsessão não era amor, e sim medo. Nós que amamos obsessivamente somos cheias de medo – medo de estarmos sozinhas, medo de não termos valor nem merecermos amor, medo de sermos ignoradas, abandonadas ou destruídas. Damos nosso amor na esperança de que o homem por quem estamos obcecadas cuide de nossos medos. Ao invés disso, os medos – e nossas obsessões – aprofundam-se, até que dar amor para obtê-lo de volta torna-se uma força propulsora em nossas vidas. E porque nossa estratégia não surte efeito, esforçamo-nos e amamos ainda mais. Amamos demais.

Robin Norwood conta que percebeu, pela primeira vez, o fenômeno de “amar demais” como uma síndrome específica de idéias, sentimentos e comportamentos, após vários anos de aconselhamento a consumidores de álcool e de drogas. Tendo realizado milhares de entrevistas com viciados e suas famílias, fez uma descoberta surpreendente. Das pacientes que entrevistou, algumas cresceram em famílias problemáticas, outras não; mas seus parceiros quase sempre provieram de famílias com problemas sérios, nas quais experimentaram tensão e dor mais intensas que o normal. Lutando para lidar com os companheiros dependentes, essas parceiras (conhecidas no campo de tratamento do alcoolismo como “co-alcóolotras”) inconscientemente recriavam e reviviam aspectos significativos da infância.

Robin fala que essas mulheres co-alcóolotras fizeram-na compreender o forte papel que suas experiências de infância tiveram em seus padrões adultos no relacionamento com homens. Elas tem algo para contar a todas nós que amamos demais: por que desenvolvemos uma preferência por relacionamentos difíceis, como perpetuamos nossos problemas e, mais importante de tudo, como podemos nos modificar e melhorar.